terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Bebidas alcoólicas e diabetes



As festas de final de ano estão chegando e, para alguns, a oportunidade de consumo de álcool aumenta. Mas afinal, pessoas que têm diabetes podem ingerir bebidas alcoólicas? Na maioria das vezes a resposta é sim, mas sempre com cuidado. Na prática, o álcool sempre diminui a glicose no sangue por diminuir a produção de glicose pelo fígado. Alguns poderiam pensar que então até seria bom consumi-lo para manter o diabetes controlado, mas isso não é verdade. A redução da glicose causada pelo álcool não é previsível e geralmente ocorre de forma inesperada, aumentando o risco de hipoglicemia. Além disso, o álcool potencializa alguns medicamentos usados para tratar o diabetes, como as sulfonilureias (glibenclamida, gliclazida, glimepirida) e a insulina, o que também aumenta o risco de hipoglicemia.

A maioria das hipoglicemias causada pelo uso de álcool no diabetes é tardia e ocorre após 6 horas do consumo do álcool. Isso explica a ocorrência de hipoglicemia na madrugada após o consumo de bebida alcoólica durante a janta ou na balada. Dificilmente a hipoglicemia acontece logo após o consumo da bebida alcoólica, exceto se não se alimentou de forma suficiente.
Além de ter efeito direto de reduzir a glicose, o consumo de bebidas alcoólicas diminui a percepção dos sintomas de alerta da hipoglicemia e diminui a resposta hormonal que o organismo normalmente tem para se proteger da queda de glicose. E acaba havendo uma soma dos efeitos do álcool com os da bebida alcoólica. Isso é particularmente importante nos adolescentes com diabetes tipo 1, que acabam consumindo álcool e não se alimentam corretamente, deixando de perceber o risco que estão correndo. Não é incomum que ocorra hipoglicemia quando estão dormindo e ainda sob efeito sedativo do álcool. A dica é sempre se alimentar. Ao chegar em casa, antes de dormir, faça um lanche reforçado.

O risco de hipoglicemia vai aumentando com o aumento da quantidade consumida de álcool. Quanto mais álcool, maior o risco. O limite de ingestão diária recomendado de álcool é de (02) duas porções ao dia para homens e (01) uma porção para mulheres. Uma porção equivale a 360 ml de cerveja (1 lata pequena), 45ml de destilados ou a 150 ml de vinho (1 taça). É claro que depende da tolerância de cada pessoa. Mesmo a cerveja, que contém carboidratos, causa o mesmo risco de hipoglicemia, pois o carboidrato consumido é rapidamente utilizado e não sustenta a glicose por muito tempo (lembrem que a hipoglicemia relacionada ao álcool é tardia!). Isso também explica o pico de glicose alta nas primeiras horas após o consumo da cerveja ou mesmo do vinho. Mas como as pessoas são diferentes, o efeito do álcool pode variar bastante.

Embora vários estudos sugiram que o consumo de doses baixas de álcool seja benéfico para a saúde do coração, não recomendo o seu consumo com esse intuito. Acho que os riscos e prejuízos do consumo frequente de bebidas alcoólicas pesa mais na balança. E por falar em balança, alerto que o álcool só perde em calorias para a gordura e é, portanto, bastante calórico. Sempre que consumir uma bebida alcoólica, lembre que está ingerindo algo que sempre facilitará o aumento do seu peso e consuma de forma consciente. Se quer emagrecer, não consuma álcool em excesso!

Como prevenir os efeitos indesejados do álcool para quem tem diabetes? Primeiro, informe-se sobre os riscos e se decidir consumir, o faça de forma consciente. Segundo, sempre alimente-se! Por último, monitore atentamente a sua glicemia pela ponta de dedo ou pelo sensor pelo menos nas próximas 6 horas após o consumo de bebidas alcoólicas.

Finalmente, para quem tem diabetes, não recomendo o consumo de álcool se: 1) o diabetes está descompensado, 2) se tem tendência a ter hipoglicemias 3) se há presença de complicações do diabetes, principalmente a doença renal, cardíaca e a neuropatia e 4) se há doença gordurosa do fígado (esteatose), que é muito comum associada ao diabetes. Nessas situações, o consumo do álcool aumenta muito a ocorrência de hipoglicemia grave, com perda de consciência, e também pode piorar a evolução das lesões, como na neuropatia e na esteatose. Aproveite as festas de final de ano sem excessos. Afinal, um novo ano, cheio de oportunidades, está prestes a chegar.

Referências:
1. Effects of Alcohol on Plasma Glucose and Prevention of Alcohol-induced Hypoglycemia in Type 1 Diabetes – A Systematic Review with GRADE. Tetzschner R, Nørgaard K, Ranjan A. Diabetes Metab Res Rev. 2017 Nov 14.
2. Substance Use Disorders among Patients with Type 2 Diabetes: a Dangerous but Understudied Combination. Walter KN, Wagner JA, Cengiz E, Tamborlane WV, Petry NM. Curr Diab Rep. 2017 Jan;17(1):2.

Dr. Eduardo Guimarães Camargo
Médico Endocrinologista
CREMERS 23.404 - RQE 17.086
www.dreduardocamargo.wordpress.com

domingo, 3 de dezembro de 2017

Avaliação dos incidentalomas de adrenal através de exames de imagem

Os incidentalomas são lesões descobertas ao acaso em exames solicitados por outro motivo que não seja a avaliação das glândulas adrenais. Por exemplo: o médico solicita uma tomografia para avaliar o fígado e o exame acaba mostrando um nódulo na adrenal esquerda do qual não se desconfiava (figura abaixo).



A descoberta de um incidentaloma levanta duas questões que vão determinar o tipo de avaliação e a necessidade de tratamento:
1 - A lesão é maligna?
2 - A lesão secreta hormônios?
Neste texto, vamos responder ao primeiro questionamento.

Felizmente, a grande maioria dos incidentalomas de adrenal são benignos. Estima-se que apenas  2 a 5 por cento dos nódulos sejam carcinomas (câncer) de adrenal e 0,7 a 2,5 por cento sejam metástases de outros tumores para esta glândula.
Os exames de imagem, com destaque para a tomografia computadorizada, podem ajudar a estimar o risco de uma lesão na adrenal ser maligna. Através do chamado fenótipo da imagem, isto é, das características mostradas pelo exame, dá para ter ideia da natureza do nódulo. A seguir, as principais características de imagem das massas adrenais mais importantes.

Adenomas benignos

Costumam ser redondos, homogêneos e com contorno liso e bem delimitado. O diâmetro normalmente é menor que 4 centímetros. Por serem ricos em gordura, apresentam densidade baixa na tomográfica (< 10 HU), além de eliminarem rapidamente o contraste (washout rápido).

Feocromocitomas

São lesões originárias das camadas mais profundas da adrenal e podem produzir adrenalina e seus derivados causando pressão alta de difícil controle. Por serem lesões altamente vascularizadas, apresentam densidade alta (> 20 HU) e eliminação lenta do contraste na tomografia. O tamanho é bastante variável e podem acometer ambas as adrenais ao mesmo tempo. Em alguns casos, a ressonância magnética pode ajudar no diagnóstico.

Carcinoma adrenocortical

O câncer de adrenal costuma ser unilateral, ter tamanho maior que 4 centímetros, além de ser irregular na forma e na textura. Podem ser vistas áreas de necrose, hemorragia ou calcificações neste tipo de tumor. Assim como os feocromocitomas, também apresentam densidade alta e washout lento na tomografia. Em alguns casos, também podem ser vistos invasão de órgãos próximos e/ou evidência de metástases.

Metástases na adrenal

Frequentemente acometem ambas as glândulas e são bastante heterogêneas. A alta intensidade e eliminação lenta do contraste são evidenciados pela tomografia, já que são lesões bastante vascularizadas. Em alguns casos, a ressonância magnética e o tomografia por emissão de pósitrons podem ser necessários para ajudar no diagnóstico, especialmente quando não o tumor de onde as metástases se originaram não foi localizado.

De uma maneira geral, as lesões com características de adenomas benignos e que não são produtoras de hormônios podem ser acompanhadas clinicamente. Já os tumores suspeitos de feocromocitoma ou de carcinoma adrenal, além dos adenomas com produção de hormônio, são tratados através de cirurgia.



Fonte: The adrenal incidentaloma - UpToDate On Line

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576 - RQE 22.991