domingo, 30 de outubro de 2016

Dieta do hCG: mais uma dieta que pode colocar sua saúde em risco

Todo dia surge uma nova dieta prometendo acabar com o excesso de peso e uma dessas “dietas da moda” é conhecida como "dieta do hCG". Mas será que essa dieta funciona? É segura? Então vamos lá... 



Antes de mais nada, o que é o hCG?
O hCG ou gonadotrofina coriônica humana é um hormônio produzido pela placenta e que pode ser encontrado na urina e sangue de mulheres grávidas. Na medicina o uso desse hormônio é aprovado para o tratamento de infertilidade feminina, criptorquidismo, hipogonadismo hipogonadotrófico em homens e puberdade tardia em meninos. Esse hormônio não é e nem nunca foi aprovado para perda de peso!! 

Mas há várias pessoas defendendo o uso do hCG para perda de peso, será que ele não é bom para isso?
NÃO! Existem vários estudos confiáveis e de alta qualidade que mostram claramente que o hCG não é eficaz na perda de peso. Além disso, o hCG não deve ser vendido como um suplemento alimentar ou nutracêutico. Ele deveria estar disponível somente mediante prescrição médica e para uso apenas nas situações descritas anteriormente.

E como funciona a dieta do hCG?
A dieta do hCG não é nova. Ela foi proposta ainda nos anos 1950 pelo médico britânico Albert Simeons. O dr. Simeons dizia que os pacientes que faziam a sua dieta perdiam uma proporção maior de gordura do que músculos durante o processo. Ele acreditava que a gordura era mobilizada da região abdominal, quadris e coxas. Além disso, afirmava que seus pacientes sentiam menos fome e irritação durante a restrição de calorias. Nesta dieta, além do uso do hCG, por via oral ou injetável, o paciente é submetido a uma restrição extrema de calorias: apenas 500 kcal/dia. Com certeza o emagrecimento vem da restrição calórica e não da administração do hCG. Para se ter uma ideia do quão severa é a restrição energética, nem mesmo pacientes com obesidade mórbida são recomendados a consumir menos de 800 kcal/dia. Visto que 500 calorias não são suficientes para manter as funções básicas do organismo, após um tempo, o metabolismo cai para tentar conservar as calorias, já que o corpo interpreta a dieta como um estado de inanição. O metabolismo reduzido, posteriormente, resulta em reganho rápido do peso perdido, quando o indivíduo retoma a ingestão calórica normal.

Mas o que as evidências científicas dizem sobre essa dieta?
Uma metanálise (técnica estatística especialmente desenvolvida para integrar os resultados de vários estudos independentes sobre uma mesma questão) de 24 estudos, publicada em 1995, avaliou o efeito do hCG sobre a perda de peso comparando pacientes que fizeram uma dieta restritiva e usaram o hormônio contra pacientes que fizeram uma dieta restritiva e que não usaram o hormônio, e concluiu que: “não há evidências científicas que demonstrem que o hCG cause perda de peso, redistribuição de gordura corporal, reduza a fome ou induza sensação de bem-estar. Portanto, a utilização do hCG deve ser considerada como uma terapia inadequada para a perda de peso".
Em 1975, o FDA (órgão do governo dos Estados Unidos que tem a função de controlar os medicamentos através de diversos testes e pesquisas) afirmou que o hCG não tem nenhum benefício no tratamento da obesidade. Em 2009, diversas sociedades médicas americanas publicaram um documento não recomendando o hCG como terapia para perda de peso. No Brasil, sociedades médicas sérias como a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) também desaprovam a prescrição do hCG para fins de emagrecimento.

E quais são os riscos de usar hCG?
- Tromboembolismo arterial e venoso (coágulos de sangue que podem obstruir artérias ou veias, provocando infarto, derrame cerebral ou embolia pulmonar); 
- Sintomas do sistema nervoso central (dor de cabeça, irritabilidade, agitação, depressão, fadiga, comportamento agressivo, insônia);
- Reações de hipersensibilidade e nos locais de injeção (dor, coceira, edema, infecção). 
- Possibilidade de aumentar a incidência de cistos ovarianos. 
- Ginecomastia (aumento de mamas) em homens
- Possibilidade de promover desenvolvimento tumoral se administrado em pessoas que tenham câncer hormônio-relacionados, tais como o câncer de próstata, endométrio, mama, ovário.

Em resumo, o hCG NÃO promove perda de peso ou de gordura adicional, NÃO reduz a sensação de fome, NÃO melhora a irritabilidade ou aumenta a sensação de bem-estar e NÃO é considerado um método seguro de emagrecimento. 
Entendemos que a perda de peso possa ser frustrante, mas nunca adote estratégias "milagrosas" e que, pior do que isso, colocam sua saúde em risco! Esta dieta não faz nada para alterar os hábitos que levam ao ganho de peso, Procure um profissional sério e competente que possa te acompanhar e orientar a perder peso de forma saudável e segura.

Fonte:
1. Lijesen GK, Theeuwen I, Assendelft WJ, Van Der Wal G. The effect of human chorionic gonadotropin (HCG) in the treatment of obesity by means of the Simeons therapy: a criteria-based meta-analysis. Br J Clin Pharmacol. 1995 Sep; 40(3): 237–243.
2. Goodbar NH, Foushee JA, Eagerton DH et al.  Effect of the Human Chorionic Gonadotropin Diet on Patient Outcomes. The Annals of Pharmacotherapy 2013 May, Volume 47.
3. Bray GA. Obesity in adults: Drug therapy. In UpToDate, literature review current through: Sep 2016.

Dra. Fernanda Meneghini Fleig
Médica Endocrinologista
CREMERS 33.785 - RQE 28.970

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