terça-feira, 10 de abril de 2018

Seis fatos sobre terapia hormonal com hormônios ditos bioidênticos em mulheres

A terapia hormonal tem diversos usos dentro da Medicina. Em mulheres, a reposição hormonal está indicada especialmente para tratamento dos fogachos que surgem perto da menopausa. O interesse por terapias alternativas, especialmente a feita com hormônios ditos "bioidênticos", cresceu bastante nos últimos anos. A busca por tratamentos "mais naturais" e o intenso trabalho de marketing explicam esse fenômeno. Mas será uma opção superior à convencional? Vamos aos fatos...




1- Hormônios ditos bioidênticos são iguais aos hormônios convencionais.
A indústria farmacêutica produz hormônios modificando quimicamente extratos de plantas, especialmente soja, para criar moléculas idênticas às do nosso organismo. Isso vale tanto para as preparações comerciais quanto para os bioidênticos. A indústria que produz ambos é a mesma. A única diferença é que o termo "bioidêntico" costuma ser usado para preparações feitas por farmácias de manipulação.

2- Os bioidênticos apresentam menor pureza.
Na prática, as doses referidas nas prescrições costumam ser bastante diferentes das doses presentes nos produtos. Segundo o FDA, órgão equivalente a ANVISA nos Estados Unidos, as potências variam de 67,5 a 268 por cento do referido no rótulo ou na prescrição (1). Além disso, a absorção da moléculas costuma ser menor quando comparada ao tratamento convencional. Em outras palavras, o risco de dosagem abaixo ou acima da recomendada é muito alto, especialmente nas formas que não permitem ajuste da posologia, caso dos implantes (figura).

3- Implantes hormonais não são para todo mundo.
A terapia de reposição hormonal tem indicações muito precisas (sintomas como fogachos e disfunção sexual em mulheres no período perimenopausa, por exemplo). Implantes hormonais jamais devem ser prescritos com a intenção de melhorar vitalidade, sensação de energia ou aparência física. Mulheres jovens tendem a ser um grupo de maior risco. O uso de testosterona e a liberação hormonal errática do implante podem levar a efeitos deletérios na função reprodutiva, isto é, podem diminuir a fertilidade.

4- O tratamento com bioidênticos custa caro.
Apesar de algumas formulações custarem menos que algumas apresentações comerciais, o custo do tratamento com bioidênticos costuma ser muito maior por dois motivos: solicitação de muitos exames desnecessários na tentativa de monitorar a terapia; alto custo da consulta dos profissionais prescritores.

5- Não existem dados sobre a segurança da terapia com bioidênticos.
Ausência de estudos evidenciando risco não significa que o tratamento seja seguro. Significa apenas que os dados não foram devidamente avaliados ou estão sendo omitidos. Não dá pra dizer que o uso de bioidênticos não aumenta o risco de câncer de mama ou de trombose, sem que bons estudos tenham sido feitos. Todo tratamento precisa ter seu perfil de segurança devidamente estudado antes de ser amplamente prescrito. É dessa forma que conhecemos os possíveis efeitos adversos, quem está mais propenso a apresentá-los e, principalmente, como devemos agir caso apareçam.

6- O uso de bioidênticos não é recomendado por sociedades médicas sérias.
Sociedade médicas internacionais (North American Menopause Society, American College of Obstetricians and Gynecologists e Endocrine Society) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) não recomendam tratamento com bioidênticos por entenderem que os riscos são maiores que os benefícios. 

Referências:
1- US Food and Drug Administration. Bio-identicals: Sorting myths from facts http://www.fda.gov/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/PharmacyCompounding/ucm049311.htm (Accessed on November 20, 2012).
2-  Martin KA, Barbieri RL. Treatment of menopausal symptoms with hormone therapy. UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

terça-feira, 3 de abril de 2018

Nódulos de tireoide com calcificações

Ao contrário do que muitos imaginam, a presença de calcificações em nódulos de tireoide nem sempre é sinal de benignidade. Um estudo realizado na Grécia (1) observou risco 2,5 vezes maior de nódulos com calcificações serem malignos. No entanto, a simples constatação da existência de cristais de cálcio dentro de um nódulo não é capaz de definir quem, de fato, tem um câncer. Dependendo das características ultrassonográficas das calcificações e dos nódulos, conseguimos estimar melhor o risco para indicar a punção com agulha fina. A seguir, são apresentados alguns padrões de calcificação bastante frequentes junto com o seu possível significado.

Nódulo com calcificação em casca de ovo

Microcalcificações: pequenas calcificações com menos de um milímetro, apesar de pouco frequentes, são altamente sugestivas de carcinoma papilífero de tireoide. Na ecografia, as microcalcificações aparecem como pontos brilhantes e estão associadas ao câncer em um terço dos casos.

Calcificações em casca de ovo: é o tipo de calcificação de reveste a borda externa de um nódulo (figura). É sinal de cronicidade, ou seja, é mais frequente em nódulos benignos. No entanto, existem alguns tipos de câncer que podem sofrer alterações degenerativas e também apresentar calcificações periféricas. Quando o tecido do nódulo rompe essa "casca", ou seja, quando é possível detectar extrusão de conteúdo através da calcificação com a ultrassonografia, o nódulo passa a ser considerado altamente suspeito de malignidade.

Calcificações grosseiras (em pipoca) e dispersas: são sinais de sangramento prévio e podem ser encontradas tanto em nódulos benignos (mais frequentemente) quanto malignos.

Grandes áreas de calcificação: são incomuns, mas podem ser vistas no câncer medular de tireoide.

O achado de calcificações em nódulos de tireoide é bastante comum na prática clínica e deve ser cuidadosamente interpretado pelo médico endocrinologista. Sozinhas, as calcificações não definem diagnóstico nem conduta. Mas dentro do contexto clínico, trazem informações relevantes para o manejo correto do paciente.

Fontes:
1- Kakkos SK, Scopa CD, Chalmoukis AK, Karachalios DA, Spiliotis JD, Harkoftakis JG, Karavias DD, Androulakis JA, Vagenakis AG. Relative risk of cancer in sonographically detected thyroid nodules with calcifications. J Clin Ultrasound. 2000;28(7):347. 
2- Ross DS. Diagnostic approach to and treatment of thyroid nodules. UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991